quarta-feira, 26 de maio de 2010

Ningen banji saiou ga uma


Pois é, hoje foi a noite da cultura Japonesa, talvez porque era aí que encontrava mais referências para expor tudo o que queria dizer, a mim próprio ou a outros com os devidos eufemismos, agora cabe a cada um fazer o desenho... Se não gostar do desenho que fez, então pode deitar fora, ou pode fazer como eu fiz: pegar numa moldura pequenina (pequenina para nos obrigarmos a ver fora dela "think outside the quare"), colocar lá o "grande desenho" e pendurá-lo na parede da mente, talvez se ganhe um pouco de paz de espírito...

Por fim fica um provérbio (japonês claro) no qual tenho pensado muito ultimamente quando dou comigo completamente frustrado com as coisas que me têm sucedido...


"As coisas humanas são como o cavalo de Saiou."
Dizem que há muito tempo no Japão havia um ancião chamado Saiou. Um dia o seu cavalo fugiu. Os vizinhos lamentaram seu desfortúnio mas Saiou disse "quem sabe se isso não foi uma grande sorte?". Dias depois o cavalo retornou, trazendo consigo uma égua. Seus vizinhos deram-lhe os parabéns pela boa sorte mas ele disse "quem sabe se isso realmente foi uma grande sorte?". Algum tempo depois o filho de Saiou sai para cavalgar, cai da égua e parte a perna. E isso foi uma grande sorte, todos os jovens da localidade foram convocados para lutar no exército do Imperador, e houve muitas baixas. O filho de Saiou foi o único sobrevivente.



E cada vez me preocupo menos com as coisas más que me acontecem, porque só quando o "grande desenho" estiver colorido é que terei um pequeno vislumbre do que foi bom ou mau...

Wabi Sabi “A beleza na imperfeição”


A beleza na imperfeição e a beleza do tempo

Wabi Sabi é uma expressão japonesa usada para definir a harmonia visual que existe na imperfeição. Olhar e tentar observar tudo com simplicidade, naturalidade, e atenção a realidade que está a nossa volta.

Varrendo um grande jardim:
Numa linda noite, um dos maiores mestres da cerimónia do chá no Japão, Takeno Joo, recebeu em seu mosteiro um jovem chamado Sen no Rikyu, que bateu à sua porta querendo aprender os complicados rituais da cerimónia.
Takeno abrigou o rapaz e pediu que, no dia seguinte pela manhã bem cedo, antes das orações, ele varresse o jardim externo do mosteiro, que era todo circundado de cerejeiras em flor.
Pela manhã Rikyu, começou feliz seu trabalho e, ao final de algumas horas, o jardim estava completamente limpo e sem folhas. Olhou mais uma vez e, antes de chamar o seu mestre, verificou cada centímetro de areia e pedras para ver se estavam completamente limpas.
Quando o mestre chegou Sen Rikyu dirigiu-se para uma árvore central do jardim e sacudiu um de seus galhos e algumas flores caíram no areia e nas pedras do jardim. Ele retornou e disse ao mestre: Agora sim, está tudo em harmonia. O mestre Takeono sorriu e, daquele dia em diante, Sen Rikyu tornou-se um dos seus melhores alunos e tornar-se-ia, com o tempo, um dos maiores e mais revolucionários mestres da cerimónia do chá no Japão.

A cultura Zen e Taoísta mostra que a acção do homem tem que ser leve e harmoniosa quando lida com a natureza e com o que está à sua volta. Não devemos interferir de maneira que se perca a essência da vida: nascimento, amadurecimento e morte são um ciclo e devem ser respeitados. Devemos enxergar e admirar aquilo que o tempo desgasta e toca com suas mãos.
Ter uma visão Wabi Sabi é ter um olhar melancólico, sabendo que á vida é feita de várias etapas passageiras, e o pensamento Budista retrata bem esse sentimento.

“Todas as coisas são impermanentes. Todas as coisas são imperfeitas. Todas as coisas são incompletas”.

CHOROU O ONI VERMELHO (NAITA AKA-ONI)


Era uma vez um monstro que se chamava "ONI" vermelho que morava sozinho numa casa no pico duma montanha. Era simpático e dócil. Queria ser amigo das pessoas da vila e desejava viver amigavelmente com elas. Mas, ele tinha uns cornos na cabeça e a sua cara era feia e terrível. Portanto, as pessoas da vila tinham medo e não se aproximavam da sua casa.
Um dia, o oni vermelho fez uma placa de aviso.

"Aqui, vive um oni vermelho que é muito simpático. Venham visitar a casa. Venham brincar comigo. Tenho uns bolos bons e também tenho chá bom."

O oni vermelho esperava visitas com muita expectativa.
Nesse momento, dois agicultores, depois de lerem a placa, decidiram visitá-lo. O oni vermelho acolheu-os bem. Mas eles tinham dúvidas.
- Este monstro vai enganar-nos.
- Provavelmente, vai comer-nos.
E fugiram para a vila.

O oni vermelho ficou desanimado, tirou a placa e deitou fora. Naquele momento, um oni azul foi a casa do oni vermelho.
- Ó meu amigo, oni vermelho, porquê é que estás zangado?
- perguntou o oni azul.

Depois de o ouvir, ele consolou-o.
-Tenho uma boa ideia. Eu vou à vila e faço coisas violentas. Então, tu atacas-me! Depois, as pessoas da vila pensam que tu és o oni bom.
-disse ele.

Primeiro, o oni vermelho recusou com reserva. Mas, o oni azul levou-o à vila.

Depois de lá chegar, o oni azul entrou numa casa e fez coisas muito más. As pessoas na vila ficaram perplexas. Então, o oni vermelho apareceu e apanhou-o.

- Bate-me, oni vermelho! - sussurrou o oni azul.

- Não, não posso. - disse o oni vermelho.
- Não! Se tu não me bateres com força,
a nossa representação é descoberta!
- disse o oni azul.

O oni vermelho pediu interiormente desculpa e bateu-lhe com força.

Quando as pessoas da vila viram isto, sentiram que o oni vermelho era bom e simpático. Muitas pessoas da vila visitaram a casa do oni vermelho, ele fez muitos amigos e estava muito contente.

Uma semana passou e o oni vermelho começou a ficar preocupado com o oni azul, porque nunca mais se tinham encontrado depois da questão na vila.
Então, o oni vermelho decidiu visitar a casa do oni azul numa outra montanha.

A casa estava calma e a porta estava fechada.

- Não está cá o oni azul? - pensou o oni vermelho.
E, viu uma carta na porta.

A carta dizia:
- Oni vermelho, vive amigavelmente com as pessoas da vila.
Nunca mais vou ter contigo.
Se continuar a andar contigo, talvez eles duvidem de ti.
E isso não é bom para ti.
Portanto eu decidi partir daqui para uma viagem.
Mas, nunca te vou esquecer.

Do teu amigo, o oni azul.

O oni vermelho leu a carta repetidamente e apoiando-se na parede, continuou a verter lágrimas.



Kousuke Hamada

A RAPOSA GON (GONGITSUNE)


Era uma vez uma raposa que morava sozinha numa floresta. Ela chamava-se Gon, era simpática, mas travessa. Todas as manhãs e todas as noites, ia à vila e fazia algumas travessuras.
Num Outono, depois de ter chovido durante alguns dias, ela foi ao rio. A água do rio tinha subido. Um homem que se chamava Heiju, estava a pescar enguias com uma rede. Isto era para a sua mãe que estava doente. A Gon não sabia isso e deixou fugir todos os peixes que ele tinha pescado.
Passaram 10 dias, e a Gon ouviu o tocar do sino para um funeral na vila. Ela foi à vila e viu o funeral da mãe do Heiju e, quando viu o Heiju tristonho, ela lembrou-se da sua mãe que já tinha morrido.
- Por causa de mim, o Heiju não pôde dar as enguias à mãe.
- arrependeu-se a Gon.
Então a Gon roubou uma sardinha a um peixeiro, e pô-la em casa do Heiju. No dia seguinte, apanhou umas castanhas e pô-las lá em casa.
O Heiju achava estranho que todos os dias aparecesse qualquer coisa lá em casa. Um amigo dele disse-lhe que era Deus que lhe dava prendas.
A Gon continuou a dar-lhas.
Um dia, quando a Gon entrou em casa, o Heiju encontrou-a. Como sabia que a raposa tinha deixado fugir os peixes, achou que ela tinha vindo para fazer travessuras.
-É a Gon, a raposa má. Vens para fazer mal uma vez mais!?
O Heiju não sabia que era a Gon que lhe tinha dado as prendas, e apontou a espingarda para ela.
- BANG!!
O som do tiro ecoou e o corpo da Gon voou.
Então, as castanhas que ela tinha em seu poder, dispersaram-se.
- Gon, então eras tu quem fazia isto!
O Heiju ficou surpreendido e abraçou-a. A Gon fechou os olhos e assentiu devagar com a cabeça no braço do Heiju.
O fumo azul ainda estava a fumegar da espingarda....

Nankichi Niimi