terça-feira, 11 de maio de 2010

Este país não é para corruptos - Pelo grande "pensador" Ricardo Araújo Pereira



Este país não é para corruptos
Em Portugal, há que ser especialmente talentoso para corromper. Não é corrupto quem quer

Portugal é um país em salmoura. Ora aqui está um lindo decassílabo que só por distracção dos nossos poetas não integra um soneto que cante o nosso país como ele merece. "Vós sois o sal da terra", disse Jesus dos pregadores. Na altura de Cristo não era ainda conhecido o efeito do sal na hipertensão, e portanto foi com o sal que o Messias comparou os pregadores quando quis dizer que eles impediam a corrupção. Se há 2 mil anos os médicos soubessem o que sabem hoje, talvez Jesus tivesse dito que os pregadores eram a arca frigorífica da terra, ou a pasteurização da terra. Mas, por muito que hoje lamentemos que a palavra "pasteurização" não conste do Novo Testamento, a referência ao sal como obstáculo à corrupção é, para os portugueses do ano 2010, muito mais feliz. E isto porque, como já deixei dito atrás com alguma elevação estilística, Portugal é um país em salmoura: aqui não entra a corrupção - e a verdade é que andamos todos hipertensos.
Que Portugal é um país livre de corrupção sabe toda a gente que tenha lido a notícia da absolvição de Domingos Névoa. O tribunal deu como provado que o arguido tinha oferecido 200 mil euros para que um titular de cargo político lhe fizesse um favor, mas absolveu-o por considerar que o político não tinha os poderes necessários para responder ao pedido. Ou seja, foi oferecido um suborno, mas a um destinatário inadequado. E, para o tribunal, quem tenta corromper a pessoa errada não é corrupto- é só parvo. A sentença, infelizmente, não esclarece se o raciocínio é válido para outros crimes: se, por exemplo, quem tenta assassinar a pessoa errada não é assassino, mas apenas incompetente; ou se quem tenta assaltar o banco errado não é ladrão, mas sim distraído. Neste último caso a prática de irregularidades é extraordinariamente difícil, uma vez que mesmo quem assalta o banco certo só é ladrão se não for administrador.
O hipotético suborno de Domingos Névoa estava ferido de irregularidade, e por isso não podia aspirar a receber o nobre título de suborno. O que se passou foi, no fundo, uma ilegalidade ilegal. O que, surpreendentemente, é legal. Significa isto que, em Portugal, há que ser especialmente talentoso para corromper. Não é corrupto quem quer. É preciso saber fazer as coisas bem feitas e seguir a tramitação apropriada. Não é acto que se pratique à balda, caso contrário o tribunal rejeita as pretensões do candidato. "Tenha paciência", dizem os juízes. "Tente outra vez. Isto não é corrupção que se apresente."


TENSHI

Não podia deixar de prestar homenagem aquele que considero um dos maiores pensadores Portugueses deste momento, não só pela sua "visão" do mundo, mas também pela forma como a transmite a nós (Zé Povinho)... Garantidamente que se um texto com este conteúdo tivesse sido escrito por um politico, ou um analista, à segunda linha já teria um carimbo no delete do mail, no back do browser ou o virar na página do jornal. Mas, tal como um dia me disseram: por vezes é preciso outra voz, mesmo que diga a mesma coisa para que o consigamos "ouvir", e o timbre desta voz é o humor inteligente e perspicaz, e pessoalmente, essa voz eu consigo "ouvir", não só porque me desperta a atenção, mas também porque a entendo. (Nunca tive interesse pela politica e posto isso ainda está por nascer o dia em que entenda seja o que for de um discurso do género...) Por mim, meu caro Ricardo, proponho um tema para um próximo livro, um dicionário: Politica Portuguesa -> Ricardo A. Pereira -> Zé Povinho, seguramente todas as assembleias municipais, a assembleia da republica, debates políticos, etc, etc, etc, seriam menos aborrecidos e mais esclarecedores para nós...
A cada dia que passa me convenço mais que todos os Ex.mos que ocupam esses cargos são como as fraldas, devem ser mudados constantemente... E pela mesma razão...

Sem comentários:

Enviar um comentário